sábado, 3 de janeiro de 2015

Publicado na revista ‘Ciência Hoje’ artigo sobre a intoxicação pelo arsênio em Paracatu


Por Sergio Ulhoa Dani (*)

A revista ’Ciência Hoje’ de dezembro publica o artigo ‘Mineração dos Ossos’, sobre a intoxicação lenta de seres humanos pelo arsênio. O artigo foi destacado na capa da revista. A mineração de ouro em Paracatu, cidade de 80 mil habitantes do noroeste de Minas Gerais é apontada como a responsável pela liberação de um milhão de toneladas de arsênio da rocha dura para o ambiente. O arsênio liberado da rocha é absorvido pelas vias respiratória e digestiva, e acumula-se lentamente nos ossos das pessoas, sem que elas percebam ou possam se defender. 

Assim como o arsênio é liberado das rochas da mina, ele também é liberado dos ossos, pelo processo conhecido como resorção óssea, causando um catálogo de doenças. Risco maior de intoxicação correm as crianças, as mulheres grávidas e as pessoas idosas. Em comum, essas pessoas apresentam uma alta taxa de resorção óssea. 

A responsável pela liberação em massa de arsênio em Paracatu é a transnacional canadense, Kinross Gold Corporation. No Brasil, essa corporação conta com o apoio dos governos brasileiro e canadense. Em Paracatu, os Ministérios Públicos Estadual e Federal estão investigando um relatório apresentado, em março de 2014, pela mineradora e a prefeitura local, que tentam encobrir o grave problema da contaminação ambiental e a intoxicação lenta da população. 

O relatório foi contratado e pago, pela prefeitura de Paracatu, sem licitação pública, ao CETEM,  um órgão ligado à mineradora e ao governo federal. A apresentação do relatório foi feita em audiência pública na Câmara Municipal de Paracatu, em março de 2014, procedimento considerado estranho, em se tratando de um relatório que deveria ser médico e científico. 

Especialistas consideramos o relatório grotesco e nocivo, por causa da metodologia inadequada, a equipe desqualificada, o desconhecimento da literatura médica e científica, a falta de controles adequados, a falta de base confiável de dados, a análise de risco confusa e inconsistente, e as conclusões não suportadas pelos resultados.

Uma ação civil pública movida desde 2009 em Paracatu pede a realização de um estudo epidemiológico e clínico-laboratorial da intoxicação crônica da população de Paracatu e região. Uma vez comprovada a intoxicação, as vítimas terão direito à indenização. No caso da intoxicação de centenas ou milhares de pessoas por arsênio, o valor total das indenizações pode atingir a cifra dos bilhões de dólares, estimam os autores da ação. 


Saiba mais:

O numero 321 da revista ’Ciência Hoje’ onde está publicado o artigo ‘Mineração dos Ossos’ pode ser adquirido nas melhores bancas de jornais e revistas. Lei também os artigos publicados neste blog: www.alertaparacatu.blogspot.com.

(*) Sergio Ulhoa Dani é médico formado pela UFMG, doutor em medicina pela MHH (Alemanha), livre-docente em genética pela USP, cientista associado ao Instituto Medawar/Fundação Acangau (Paracatu, MG), médico do Departamento de Oncologia Clinica do Hospital da Universidade de Berna, Suíça.

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